Trabalhadores demitidos da Embraer relatam insegurança sobre futuro após dispensa

 Empresa demitiu 900 funcionários nesta quinta-feira (3) e disse que medida é consequência da crise da pandemia de coronavírus. Outros 1,6 mil também deixarão empresa após adesão a Plano de Demissão Voluntária.

Por Daniela Lopes, G1 Vale do Paraíba e Região

Vitor de Almeida, de 39 anos, foi um dos funcionários da Embraer em São José dos Campos que receberam uma ligação da empresa nesta quinta-feira (3). Pelo telefone, escutou o que outros 900 trabalhadores também escutaram: estava demitido.

O corte na Embraer, que chega ao total de 2.500 funcionários incluindo os 1.600 que aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV), é uma das medidas adotadas pela empresa diante da crise causada pela pandemia de coronavírus.

Vista da sede da Embraer, em São José dos Campos, interior de SP — Foto: Luis Lima Jr./Futura Press/Estadão Conteúdo

Vista da sede da Embraer, em São José dos Campos, interior de SP — Foto: Luis Lima Jr./Futura Press/Estadão Conteúdo

A crise já gerava incerteza em trabalhadores de diversos setores desde o início da pandemia, mas Vitor de Almeida agora sente realmente a insegurança sobre o futuro após a demissão. Ele trabalhava na Embraer há 15 anos e exercia a função de pintor de aviões. Porém, já estava afastado do cargo desde o começo da pandemia.

Casado e pai de dois filhos, é o único que trabalha na família. Quando recebeu a ligação, conta que a esposa chorou muito. A tristeza, segundo ele, vem por ser dispensado sem benefícios após anos dedicados à empresa.

"Frustrante. A gente trabalha há tanto tempo ali, dando o nosso máximo e, chegar em um momento de pandemia, em que sabem que o mercado está difícil, eles mandam embora", lamentou Vitor de Almeida.

O telefone de Adriano Henrique da Silva, que trabalhava na Embraer há 14 anos, foi outro que tocou nesta quinta-feira com a mesma notícia. Ele estava afastado desde abril, inicialmente por férias e, depois, por meio da medida provisória do Governo Federal de redução de jornada e suspensão de contratos.

Adriano era mecânico montador estrutural na Embraer. Relata que trabalhava sob pressão na empresa e teve o joelho lesionado durante o trabalho. Assim como Vitor de Almeida, ele é casado e pai de dois filhos pequenos. A esposa não trabalha.

Além da ligação, Adriano recebeu um e-mail da empresa. Porém, não teve coragem de abrir para ler o que já tinha escutado pelo telefone.

"Um choque para nós, no meio dessa crise que estamos vivendo, no meio dessa pandemia. Já está difícil para quem está empregado. Para conseguirmos um novo cargo em qualquer mercado, para qualquer coisa que seja, acho que não será fácil para ninguém", disse.

Ao todo, a Embraer mantinha cerca de 16 mil funcionários no país, sendo 10 mil apenas em São José dos Campos, sede da empresa. O número de desligamentos por unidade não foi informado.

Sindicato decreta greve

O Sindicato dos Metalúrgicos realizou na tarde da última quinta-feira (3) uma assembleia e aprovou greve para tentar reverter as 900 demissões anunciadas pela Embraer nas fábricas do país. Além deles, a fabricante de aviões vai demitir outros 1,6 mil empregados que aderiram a um Plano de Demissão Voluntária (PDV).

Houve uma reunião entre representantes do sindicato e da Embraer. A empresa irá responder nesta sexta-feira (4) à proposta do sindicato. Também afirmou que não reconhece a greve e que as operações continuam normalmente.

Adesão ao PDV não foi suficiente

A Embraer havia encerrado na quarta-feira (2) o prazo para inscrição no terceiro PDV aberto durante a pandemia. A medida era uma tentativa de ajustar o quadro de funcionários frente aos impactos causados pela pandemia.

Unidade da Embraer no aeroporto em São José dos Campos — Foto: Divulgação/Embraer

Unidade da Embraer no aeroporto em São José dos Campos — Foto: Divulgação/Embraer

Foram 1,6 mil adesões aos PDVs, mas como o volume não atingiu a meta necessária, a Embraer anunciou que vai fazer mais 900 cortes. Parte dos pedidos no PDV serão efetivados nesta sexta (4).

Pandemia e fracasso em parceria

Para justificar as demissões, a Embraer alega o impacto provocado pela pandemia de coronavírus e o cancelamento da parceria com a Boeing, além da falta de expectativa de recuperação do setor de transporte aéreo no curto e médio prazo.

Segundo a empresa, os cortes foram feitos com o "objetivo de assegurar a sustentabilidade da empresa e sua capacidade de engenharia". Desde o início da pandemia, a Embraer adotou uma série de medidas como férias coletivas, redução de jornada, lay-off ( suspensão temporária de contratos) e licença remunerada.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos afirma que foi pego de surpresa com as demissões. O órgão considera as demissões anunciadas nesta quinta ilegais e promete ir à Justiça para tentar reverter as demissões.

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