TULIO GADELHA ACUSA CAMPANHA DE JOÃO CAMPOS MAS É DESMENTIDO POR SEU PRÓPRIO CHEFE DE GABINETE

 





Por Miguel do Rosário

23 de novembro de 2020 : 02h10 

Diz o ditado que a política adora a traição mas abomina o traidor.

As eleições em Recife nos permitirão observar se a frase é verdadeira ou não.

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Vamos contar a história a partir dos últimos acontecimentos.

Nesta noite de domingo, o deputado federal Tulio Gadelha (PDT-PE) fez uma denúncia cabeluda em seu twitter.

Em resumo, ele acusou o coordenador da campanha de João Campos, candidato do PSB à prefeitura de Recife,  de entrar em contato com seu chefe de gabinete para tentar comprar seu “silêncio”.

É uma acusação gravíssima, com potencial de destruir a reputação dos envolvidos, e manchar a campanha de João Campos.

Entretanto, horas depois, o próprio chefe de gabinete de Tulio Gadelha, o jovem Rafael Bezerra, veio à público desmentir categoricamente a informação. Bezerra disse que o fato relatado por Gadelha “nunca aconteceu”.

A lei mais antiga do mundo (está no Código de Hamurabi) é a que trata da validade de uma acusação, e do risco que o acusador incorre caso não consiga prová-la.

No Direito moderno, essa lei milenar foi traduzida e simplificada numa fórmula muito simples: o ônus da prova é de quem acusa. Tulio fez uma acusação baseada exclusivamente no testemunho de seu próprio chefe de gabinete. Este o desmentiu categoricamente, em tom indignado, e pediu demissão.

A situação em Pernambuco abriu uma crise no seio trabalhista, porque o deputado federal Tulio Gadelha (PDT-PE) rompeu o acordo costurado entre PDT e PSB, de apoiar João Campos à prefeitura de Recife, e decidiu se engajar na campanha da adversária, a petista Marília Arraes.

Gadelha queria se lançar à prefeitura da capital pernambucana, mas as direções nacionais de PDT e PSB firmaram uma parceria, na qual se acordou que o candidato de Recife seria um quadro do PSB, com vice do PDT. Em outras cidades, como no Rio de Janeiro, o acordo foi invertido: a candidata trabalhista ficou na cabeça de chapa, e o PSB teve o vice.

O acordo nacional nas eleições deste ano visa construir as bases para uma eventual aliança em 2022. O PDT tem muita esperança de que, com apoio do PSB, uma legenda de tamanho razoável, que governa muitas cidades no país, o seu candidato Ciro Gomes tenha mais chances de chegar ao segundo turno. Em 2018, havia essa expectativa, mas o PSB preferiu manter a neutralidade no 1o turno, após uma articulação do PT para retirar a candidatura de Marília Arraes ao governo do estado, o que abriu caminho para a reeleição de Paulo Câmara.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, um dos principais articuladores da aliança entre os dois partidos, não escondeu sua indignação com o que ele chamou de “trairagem”.

A partir de agora, a presença de Gadelha no PDT corre sério risco.

Segundo apuramos, a maioria dos membros da Fundação Leonel Brizola em Pernambuco, instituição que cuida dos interesses políticos do PDT em cada estado, está chocada e decepcionada com a postura de Gadelha. O presidente da Fundação, Pedro Josephi, que foi candidato a vereador este ano (teve 2.103 votos, e não se elegeu), e que era muito próximo de Tulio Gadelha, tem se manifestado nas redes contra a posição do deputado.

Gadelha se isolou em seu próprio partido.

No primeiro turno, o resultado das eleições em Recife ficou bastante apertado, com João Campos obtendo 29,13% do votos, e Marília Arraes, 27,9%.

As primeiras pesquisas mostram vantagem de quase 10 pontos para Marília Arraes, mas o PSB é uma legenda com força impressionante em Pernambuco. O partido – que governa o estado –  elegeu agora 12 dos 39 vereadores da Câmara de Recife. O PT elegeu 3 vereadores. O PSOL, dois. O PCdoB, aliado do PSB, elegeu dois vereadores.

Tem sido uma campanha extremamente agressiva, com acusações mútuas de “jogo sujo” e “fake news”. Apoiadores de Marília Arraes tem espalhado registros fotográficos de santinhos que detratam a petista, associando-os à campanha de João Campos, mas não há provas de que eles vem mesmo da campanha socialista; podem ter sido produzidos por candidatos conservadores, para a campanha de primeiro turno.

Os observadores distantes do caos em que se tornou a eleição no Recife já se perguntam quais serão suas principais consequências? A aliança entre PDT e PSB emergirá mais consolidada? Ou seria o contrário? Ganhando Recife, o PT não teria mais força para obrigar o PSB a ficar neutro mais uma vez, evitando que o PDT ganhe musculatura para disputar com mais competitividade uma vaga no segundo turno nas eleições presidenciais de 2022?

As emoções serão grandes nos próximos dias!

MIGUEL DO ROSÁRIO

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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